O USO DE TELAS CAUSA AUTISMO?

O USO DE TELAS CAUSA AUTISMO?

Será que ficar muito tempo utilizando o celular e os recursos incríveis que eles têm a nos oferecer pode causar autismo?

Essa dúvida tem feito alguns pais perderem o sono e até em alguns casos mais drásticos cortar totalmente o acesso do celular, tablets, TV, notebooks ou qualquer acesso a essas telinhas mágicas. O debate polemico está acontecendo após algumas matérias terem sido publicadas em algumas revistas de impacto, principalmente no meio da comunidade autista. 

O “Zero tempo de tela”, para crianças com menos de 6 anos e defendido em tese pelo neurocientista francês Michel Desmurget, autor do livro “A fábrica de cretinos digitais”, dá o que falar e já lhe rendeu, além dos comentários, o lugar de campeão de vendas. 

Mas vamos ao que importa, vivemos sim na era digital e não podemos nos desconectar totalmente desse meio de informação tão valioso, mas como agir diante de uma informação tão preocupante. Será que é verdade que devemos afastar nossas crianças ao máximo das telas? 

O celular é sem dúvida o meio digital mais utilizado no mundo inteiro, por todas as faixas etárias. Temos informações relevantes, como a hora, a previsão do tempo, uma pesquisa sobre nosso trabalho, uma aproximação com alguém que amamos e está longe. Podemos em algum momento descartar essa utilidade? De forma alguma. É multifuncional, ocupa pouco espaço e nos dá acesso a nossas necessidades na hora solicitada. Até aí ok, mas vamos analisar o que essa maravilhosa tecnológica nos trouxe de tóxica, ou seja, os seus malefícios. 

Para os adultos que já tem todo o seu processo cognitivo formado, sua socialização, enfim suas faculdades mentais num processo completo, vamos com o tempo observar, que sua atenção compartilhada não é mais a mesma, pois sua atenção está voltada em olhar de minuto a minuto, se chegou alguma mensagem, se alguém está se lembrando dele e o convidando para sair (pensamento indireto, solidão), se tem alguma notícia da família, do esporte, do seu personagem favorito o qual segue, se o tempo vai chover, se aconteceu alguma coisa nova no mundo, podemos imaginar milhares de possibilidades, conforme o perfil e interesse de quem usa o celular. 

Nesse emaranhado de possibilidades, deixamos de olhar para o lado e conhecer uma pessoa que está do nosso lado, perguntar seu nome, o que ela faz, seus interesses. Não é uma entrevista de emprego, quando coloco essas possibilidades, mas seria nosso mundo sem o celular. Para mim, que estou na casa dos 50 anos, sei que já foi assim um dia. 

A perda dessa habilidade de se socializar e de se comunicar com nosso semelhante está ficando cada vez mais fora de moda e muitos preferem compartilhar seu afeto, com um animal de estimação. Nada contra ter amor pelos animais, eu mesma sou uma apaixonada por eles. No entanto, acredito que o compartilhar de emoções humanas precisa existir para se sentirmos como parte de alguma espécie, a qual divide interesses em comum. 

Mas é no caso das crianças, o uso do celular ou das telas, pode causar ou não autismo?

Não, o uso do celular não causa autismo, o autismo surge ainda no desenvolvimento fetal da criança, nos primeiros meses de gestação, mas o uso de celular e seus atrativos a crianças menores de 2 anos é contraindicado em todos os casos, tanto para crianças típicas ou para crianças com autismo. 

A infância é o período que o neurodesenvolvimento está ativo e fatores ambientais, a estimulação elétrica, luminosa da visão, a exposição a jogos e televisão por um período prolongado do dia, faz com que as crianças deixem de emitir ondas cerebrais do tipo beta, responsáveis por medir a atividade do lóbulo frontal do cérebro, a qual controla as emoções. Com a diminuição do nível das ondas betas, as crianças passam a serem mais imediatistas, aceleradas, com pensamentos rígidos e passam a apresentar problemas de concentração. 

O prazer pelos jogos, associado a redução das ondas betas, libera um neurotransmissor: a dopamina, aquela que dá a sensação de prazer e que vicia, nos fazendo voltar a buscar o objeto de desejo, que nos dá essa sensação, ou seja, nosso celular. O vício por celular está sendo estudado por especialistas e considerado um problema de saúde pública. 

Essa dependência já tem até CID (Classificação Internacional de Doenças) e está sendo tratada como mais um transtorno, “Gaming Desorder”, ou Transtorno do Jogo. Em Londres, já existem clínicas de dependência privadas com crianças de 12 anos internadas. Na Coréia do Sul, existe lei que proíbe o acesso de menores de 16 anos aos jogos online entre meia-noite e 6:00 horas da manhã. Na China, as crianças têm limite de horas em jogos mais populares on-line. 

Precisamos ficar atentos a alguns sinais da dependência digital: 

  • A criança não tem mais controle do tempo que fica no celular; 
  • Não responde quando chamada;
  • Mesmo após consequências negativas, continua aumentando a frequência do tempo que fica com o celular.

O tratamento para o Gaming Desorder é similar a outros vícios: psicoterapia e em alguns casos medicamentos. 

O assunto é sério, as funções executivas, a criatividade, memória e socialização de nossas futuras gerações estão sendo colocadas em xeque. Não é caso de excluir o contato com as telas, mas ter consciência de sua utilização e tomar cuidado, sabemos que esse vício não é só das crianças, todos estamos vivendo esse momento alucinógeno. 

Os pais como responsáveis e formadores mais do que ninguém precisam estar alerta quanto ao uso do celular, a vida virou uma roda gigante imensa e cheia de desafios para nossa sobrevivência, que nos forçam a trabalhar muito e ter pouco tempo com nossos filhos e nesse momento entram as “melhores distrações possíveis” que podemos ofertar a nossos filhos. O bom desenvolvimento das crianças vai depender do bom senso dos adultos, que vão precisar criar opções de brincadeiras com seus filhos e que a princípio não serão tão atraentes, como ler uma história antes de dormir, montar um quebra cabeça, aprender a jogar xadrez, jogar bola e driblar, deixar cair na grama e abraçar, ensinar a olhar as estrelas e levar para os mais velhos contar histórias da infância. 

O uso das telas não provoca autismo, mas compromete o desenvolvimento das habilidades de atenção e socialização, mesmo tendo aplicativos que deveriam ajudar no processo de conversação e socialização do autista, fica muito restrito ao uso do celular.

Essa é a minha visão, Juliane Castanha, Psicopedagoga Especializada no TEA, Mestra em Educação e autora dos livros Autismo e Educação no Brasil e Autismo: Manual do Professor. Mãe e professora de um lindo adolescente também com autismo.

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